sexta-feira, 22 de novembro de 2013














MOMENTOS
Nossa vida é composta por momentos. Claro, isso todo mundo sabe, chega a soar algo clichê iniciar uma postagem assim. No entanto, como a última moda é ignorar tudo o que parece clichê, acabamos perdendo a noção da importância de certas verdades aparentemente banais, inclusive esta - a de que nossa vida é composta por momentos. Por exemplo, o momento em que você digita meia dúzia de palavras, talvez as mais importantes de toda a sua vida, porém hesita um instante e ao invés de clicar "enviar", você prefere "deletar". Ou o oposto, quando você, sem pensar, envia e depois se arrepende amargamente pelo resto da vida. 
Há também o momento em que as palavras estão "amarradas" na garganta, urrando desesperadas para sair, mas você as tranca, e elas escorrem pelos olhos em forma de lágrimas. Ou se disfarçam às vezes de sorriso, às vezes de desprezo...
Mas também existem momentos que não estão diretamente envolvidos com palavras. Digo diretamente porque mesmo não ditas ou escritas, as palavras estão envolvidas. O momento da troca de olhares. Quantas palavras em tão poucos segundos quando dois olhares se cruzam... Certos momentos desse tipo talvez nunca possam ser traduzidos em palavras, todas as existentes talvez fossem poucas.
E assim a vida segue, momento a momento, às vezes com uma fluidez tranquila e serena, às vezes meio truncada e aos solavancos. Mas enquanto houverem momentos, sejam eles quais forem, saberemos que há vida. E esse é o momento mais precioso...











"Não vou mais falar de amor
De dor, de coração, de ilusão
Não vou mais falar de sol
Do mar, da rua, da lua ou da solidão
Meu vício agora é a madrugada
Um anjo, um tigre , um gavião
Que desenho acordada
Contra o fundo azul da televisão
Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar...é voar
Não vou mais verter
Lágrimas baratas sem nenhum porque
Não vou mais vender
Melôs manjadas de Karaokê
E mesmo assim fico interessante
Não ser o avesso do que eu era antes
De agora em diante ficarei assim...
Desedificante
Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar... é voar"
(Kid Abelha)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

História de Amor




















"Vieste...
E me falaste de alguém infiel que traíra tua vida,
E a quem deras, no entanto, teu amor...
Vieste, e me falaste a linguagem de fel, da tua alma ferida,
E em teus olhos havia, atormentada e presa, uma imensa tristeza, um profundo amargor...
Quem te viu como eu vi, - a falar a linguagem da suprema amargura,
Da incurável desilusão,
Como quem abatido chega ao fim da viagem
E encontra um velho sonho de ventura em pedaços no chão...
Quem te viu como eu te vi - beirando o precipício e quase em desatino,
Sem saber procurar sequer um novo início para o teu destino...
Vieste... E eu dei-te o abrigo dos meus braços,
Comovi-me e senti meus olhos baços diante da tua dor...
E sem que eu própria saiba como consegui,
Aos poucos, muito aos poucos, dia a dia, eu vi que vencias o infiel, o amargurado amor...
Uma tarde, em que te vi chegar, rindo e chorando,
Numa emotividade que punha em teu olhar imprevisto esplendor
Pensei que nessa tarde enfim eu te pudesse desvendar meu segredo de felicidade
E pedir o teu carinho para o meu amor...
Chegaste... me estendeste a mão e me disseste,
Entre terno e comovido:
"Ah, minha amiga! Nem tu compreenderás todo o bem que me fizeste, agora que afinal posso seguir de novo, radiante, sem perigo...
E entre terno e comovido, silenciaste
E me entregaste a mão...
Era a despedida...
Pior que a despedida: - era a separação...
Num derradeiro gesto impensado, numa alegria louca,
No instante de partir:
Beijaste-me na boca
E te foste a sorrir...
Para quê?
Para que beijaste-me na boca?
Hoje a minha alma sofre
E o meu desejo goza
A angústia dessa lembrança...
Ah, meu amor... O quanto foste louco...
E impiedoso...
E quanto foste criança!"
Poema de J.G. de Araujo Jorge, extraído do livro
"Meu Céu Interior", 1ª edição, 1934